O impacto da pílula anticoncepcional (OC) na composição corporal de uma mulher é um assunto controverso mesmo entre a comunidade científica. Em particular no que respeita ao ganho de massa muscular a evidência é escassa e até conflituosa. Um estudo muito mediático, Lee 2009, revelou de facto que as mulheres a tomar OC ganharam menos massa magra ao longo de 12 semanas com treino resistido. E a magnitude da diferença relativa foi impressionante. Menos 60%! No entanto, quando analisamos mais afundo esses dados, fica evidente que o impacto negativo do OC depende do tipo de progestina. Na verdade, outros estudos (Dalgaard 2019) sugerem um efeito neutro ou positivo dos OC combinados, com etinilestradiol e progestinas fracamente androgénicas. Antiandrogénios (ex: ciproterona ou drospirenona) ou progestinas com elevada androgenicidade (ex: levonorgestrel ou norgestrel) parecem exercer um impacto catabólico no geral. Mas androgénios mais fracos como o desogestrel não parecem ter um efeito negativo na hipertrofia muscular, em particular quando combinados com estrogénios de efeito moderadamente anabólico.
Portanto, a resposta é mais uma vez depende. A que vocês mais odeiam eu sei, mas que mais se ajusta à evidência científica e empírica. Depende do tipo de anticoncepcional. Os de progestinas em exclusivo aparentam ser algo catabólicos quando de elevada afinidade para o receptor androgénico. Mas as pílulas combinadas, com progestinas moderadamente androgénicas e estrogénios revelam-se neutras ou até positivas para o ganho de massa muscular, provavelmente pela menor competição com a testosterona pelo receptor aliada ao efeito dos estrogénios. Mesmo com a redução da fracção livre de testosterona que decorre do aumento da SHBG provocado pelo etinilestradiol. Pela minha experiência o impacto na massa muscular é inexistente com os OC combinados de progestinas mais “fracas”
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