Análogos de GLP-1 (ex. Ozempic) e perda de massa magra

Vocês têm partilhado comigo vários posts que mostram preocupação com a alegada perda de massa magra (MM) quando se recorre a análogos de GLP-1, nomeadamente o Ozempic (Semaglutide), para perda de peso. Em obesos como é suposto. Um artigo publicado recentemente veio inflamar a discussão. Primeiro é importante assumir que haverá sempre estigma para com a perda de peso assistida com medicação. Como se sem castigo não valesse. Mas vale, e as drogas podem ser uma ajuda se as mudanças necessárias a nível do comportamento e estilo de vida forem consolidadas no processo. O problema é que raramente são, ou sequer promovidas por quem as prescreve indiscriminadamente.

Sim os estudos têm mostrado uma perda de massa magra que pode chegar a 40% do peso total com o Semaglutide. E é verdade que a intervenção não-farmacológica em obesos parece levar a perdas totais na ordem dos 20-30%. Mas olhemos para o estudo STEP-1. O grupo com 2,4 mg por semana perdeu 17,3 kg ao fim de 68 semanas, e o grupo placebo 2,6 kg. Dos quais 6,92 e 1,48 kg foram massa magra, respectivamente. A questão é que isso corresponde a 40% do peso perdido com o Semaglutide, e a 56% com placebo (slide 2). A relação MG/MM final foi até mais favorável com a medicação.

O outro ponto que merece consideração é o próprio conceito de massa magra. Massa magra não é sinónimo de músculo, e o tecido adiposo é constituído em 15-25% por massa magra. Maioritariamente água. A perda de uma grande quantidade de massa gorda vai refletir-se sempre em perda de massa magra - água. Os dados que temos não sugerem perda de função muscular, nomeadamente de força. Além disso os análogos de GLP-1 têm efeito diurético reconhecido, que se vai refletir negativamente no compartimento da massa magra.

Podemos manifestar muitas preocupações com o uso generalizado destas drogas, mas a sarcopenia não é uma delas. De qualquer forma, a prevenção da perda de tecido muscular deve estar no centro de qualquer tratamento para perda de peso. Como? Treino resistido e assegurando uma ingestão proteica adequada. O Semaglutide não se substitui à dieta e exercício. Encarar a terapia dessa forma é fracasso certo na manutenção do peso perdido a longo prazo.