No episódio 1 do podcast, em conversa com a Helena Coelho, falámos sobre a lipoaspiração e as implicações pode trazer na redistribuição da gordura corporal. É público que ela fez uma há 6 anos atrás. Resumindo o que foi falado, a retirada de tecido adiposo de uma região leva a que o ganho de massa gorda após o procedimento se manifeste preponderantemente noutras zonas corporais. Por exemplo, a lipoaspiração abdominal faz com que o aumento de gordura se manifeste mais nos braços, pernas e dorso. Fui questionado por alguns ouvintes que desconheciam esse fenómeno, e que me sugeriram este post em esclarecimento.
Na verdade é muito simples de compreender. Se retiramos células adiposas de um local, e pré-adipócitos que vão de arrasto, as células que vão dar origem a novos adipócitos, a capacidade de reter gordura nessa região diminui. Mas num contexto de balanço energético positivo não é por isso que vamos reservar menos. A gordura vai apenas ser canalizada maioritariamente para outras regiões. Hernandez et al. (2011) demonstrou isso mesmo. Mulheres sujeitas a lipoaspiração nas coxas, ancas ou abdómen inferior recuperaram a massa gorda removida após 1 ano, mas redistribuída para a zona abdominal. Tendência essa confirmada pela revisão sistemática de Demiri et al. (2015).
Além desse efeito de redistribuição, levanta-se também a hipótese de um mecanismo compensatório de retorno ao peso de equilíbrio, o set-point. A lipoaspiração leva a uma redução nos níveis de leptina (Giese et al. 2015), produzida pelos adipócitos, que explicaria um aumento de apetite e atenuação do gasto energético basal e DIT (termogénese induzida por dieta). Mecanismos que favorecem o retorno ao nível de massa gorda de equilíbrio.
Claro que, e trata-se de um ponto importante, essa regressão dependerá sempre dos comportamentos do paciente. Por exemplo, Benatti et al. (2012) mostra que o exercício físico pode ajudar a mitigar esse efeito. Mas os 3-5 anos após cirurgia serão críticos para o estabelecimento de um novo set-point, período em que os cuidados devem ser redobrados para o melhor partido da cirurgia estética. Que não ponho em causa para escultura localizada e perda em zonas mais resistentes. Com consciência da necessidade de maiores cuidados no período que vem depois.
Referências
J Clin Endocrinol Metab 97: 2388–2395, 2012
J Diabetes Obes. 2015 ; 2(4): 1–7
Obesity (2011) 19, 1388–1395
Obes Surg (2015) 25:1950–1958
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