A minha costela científica faz com que tenha um certo grau de obsessão com a métrica de parâmetros fisiológicos em “tempo real”. Nas respostas a estímulos externos, entre eles a alimentação claro. E um dos mais simples de monitorizar é a glicemia intersticial com sensores contínuos, uma boa aproximação dos valores séricos e das flutuações diárias que ocorrem. Como sabem, sigo um padrão alimentar incomum há vários anos, e muito regular, com uma primeira refeição pelas 5:00 e a última antes das 17:00. Período em que ingiro cerca de 3000 kcal e 400 g de hidratos de carbono diariamente. Provenientes essencialmente de aveia, arroz e fruta. Durante 30 dias monitorizei a glicemia para estabelecer um padrão médio, aqui representado graficamente.
Não sou diabético, pratico exercício, e claro que esperava o perfil perfeitamente normal que se verificou. Mas de notar a pequena amplitude de variação da glicemia, mesmo ingerindo 400 g de hidratos de carbono diariamente. Muito excepcionalmente excedeu os 120 mg/dL, e nunca os 130 durante estes 30 dias. De salientar a estabilidade da glicemia no período de jejum. O pico mais elevado ocorre sempre na última refeição, como seria de esperar. É por volta das 16:00-17:00 que a actividade simpatoadrenal é máxima, inibindo a secreção de insulina e estimulando o output de glicose. Após a primeira refeição a glicemia eleva minimamente, mesmo contento 100 g de hidratos de carbono. O jejum desde as 17:00 promove a depleção quase total do glicogénio hepático, orgão muito ávido da captação de glicose pela manhã para repor as reservas.
Nenhuma conclusão deve ser tirada para além do meu caso individual, que corrobora a boa tolerância aos hidratos de carbono com um padrão alimentar deste tipo, e menores flutuações ao longo do dia. Compatíveis com a maior saciedade que é relatada nos estudos que vos falei há dias. E tudo isto a comer 400 g de hidratos de carbono, com muita aveia, arroz e fruta. Bons perfis de glicemia não se conseguem só com a restrição de hidratos de carbono. Nem esta será a melhor forma de o conseguir em pessoas saudáveis. E é apenas destes que estamos a falar.
Apesar de o ter feito, não recomendo de forma genérica a monitorização da glicose. Mas para quem opta por uma dieta low-carb, ou por um modelo de jejum intermitente com restrição alimentar de manhã, fica poderá ser uma experiência útil. Poderá surpreender-vos, e não tanto pela positiva. Só não comprem os sensores nas farmácias que nem chegam para quem deles mais precisa. Há forma de os conseguir online, pois os sensores não estão em falta na produção. Qualquer pessoa os consegue se pagar o PVP e comprar directamente ao fabricante.
Sérgio, este artigo surge em boa hora. Ando há algum tempo para comprar um sensor de glicemia, tens algum que recomendes?