A ideia errada de que os alimentos podem condicionar o pH do organismo está no fundamento da dieta alcalina. Mas a verdade é que o equilibro de Henderson-Hasselbalch, que faz parte do currículo do ensino secundário, deveria ser suficiente para se entender que qualquer variação ligeira no pH será rapidamente tamponada e com efeito anulado. Os H+ combinam-se com o bicarbonato, que produzimos em quantidade elevada, forma-se água e CO2 que expelimos no simples acto de respirar. E de pulmões e rins é tudo o que precisamos para que o pH se mantenha dentro da faixa fisiológica, onde a vida é possível fora de um hospital. O pH do sangue arterial não varia em condições normais, situando-se na faixa dos 7,35-7,45. O sangue venoso tem um pH ligeiramente mais baixo devido à saturação em CO2, que aumenta quando este é expelido na respiração.
E mesmo o pH celular é mantido em valores óptimos por sistemas activamente regulados de bombas protónicas que não são influenciados de forma alguma pela alimentação. Apenas o pH da urina o poderá ser, mas sem relação com variações do pH do sangue e tecidos. Ácidos e cetoácidos derivados dos aminoácidos, e principalmente os sulfatos e fosfatos, são excretados na forma protonada e aumentam a acidez da urina. Mas o PRAL (Potential Renal Acid Load) individual de um alimento não reflete sequer o potencial de excreção ácida da dieta como um todo. Resultado do balanço com o aporte total de potássio, magnésio e cálcio (e também sódio embora este seja anulado pelo cloro no sal). Mesmo uma dieta com um PRAL muito negativo, que podemos considerar “alcalina”, não afecta o pH do sangue em mais de 0,0014 unidades. Valor inferior ao erro da medição e portanto insignificante.
Não existe qualquer evidência de que uma alimentação alcalina possa, por via da variação do pH, ter qualquer benefício em sistemas vivos. A regulação apertada é inerente a estarmos vivos. Estudos in vitro com manipulação do pH do meio de cultura não têm qualquer extrapolação possível para um contexto fisiológico. Mas uma dieta alcalina é necessariamente rica em vegetais e frutas, os alimentos com o PRAL mais negativo. E este é o único aspecto positivo que este tipo de alimentação pode apresentar.
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