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Foto do escritorSérgio Veloso

Suplementos para aumento da testosterona - tongkat ali e fadogia agrestis

Vive-se uma certa obsessão pela testosterona no mundo do fitness e bem-estar, numa época em que se consome informação de todo o tipo nas redes sociais e podcasts, sempre à procura do último hack para melhorar a saúde e desempenho. A testosterona é uma bandeira da masculinidade, e aumentá-la tornou-se um desígnio. Para aumento de massa muscular, longevidade, libido, e saúde em geral. Aceitam-se todas as estratégias, desde banhos gelados a suplementos alimentares que muito prometem mas pouco fazem. E é sobre estes que vou falar, com base na evidência científica e empírica que existe sobre eles.


São dezenas as substâncias que alegadamente influenciam os níveis de testosterona e seria impossível falar sobre todos. Até porque alguns vêm de pura invenção e cada dia surge um novo. Vamo-nos focar nos que têm estudos clínicos publicados e nos mais promovidos, tal como o Tribulus terrestris, maca, tongkat ali (Eurycoma longifolia), Fadogia agrestis, ashwagandha, crisina, ZMA, ácido D-aspártico e feno-grego. E nenhum apresenta boa evidência de um efeito significativa, clinicamente relevante, nos níveis de testosterona de homens saudáveis. Como são vários e para não alongar o texto, vamos tratando deles à vez. Começamos pela Eurycoma longifolia (tongkat ali ou long Jack) e a Fadogia agrestis.


O tongkat ali conta com alguns estudos publicados sobre a sua relação com os níveis de testosterona em homens. Mas foi mais recentemente que se tornou mediático após o Andrew Huberman ter falado positivamente dele no seu famoso podcast. Afirmando que a suplementação com tongkat ali aumenta os níveis de testosterona. Bem sei que o Huberman Lab é tido como um podcast baseado em evidência científica, sendo o próprio professor associado na Universidade de Standford. Mas isso por si não significa que tenha razão, pois a literatura disponível não certifica o impacto do tongkat ali nos níveis de testosterona.


Uma meta-análise de 2022 (Leisegang et al. 2022) sugere um efeito positivo do tongkat ali, mas devemos ser críticos ao que isso significa. A revisão só é boa se os estudos inclusos forem bons, o que não é o caso. São 5 estudos apenas, em que um deles é uma tese de doutoramento, portanto não sujeita a revisão por pares ou outro escrutínio. Outro não encontra significância no aumento da testosterona (George et al. 2013), e entre os que sugerem um impacto positivo está um trabalho feito por funcionários da empresa de suplementos que comercializa um extracto patenteado (Chinnappan et al. 2021). O estudo de maior dimensão (N=105), e portanto o que mais contribui para a meta-análise.


“SMC [autor principal] and AG are employees of the Biotropics Malaysia Berhad. The authors declare that there is no conflict of interests. Biotropics Malaysia Berhad, Shah Alam, Selangor, Malaysia, funded the study.”


Não declararam conflito de interesses. Apenas são funcionários da companhia que vende o suplemento e detém a patente do extrato. É lá isso um conflito de interesses...


É importante distinguir aquilo que é um efeito estatisticamente significativo de clinicamente relevante. Com uma amostra suficientemente grande podemos encontrar significância num efeito pequeno, totalmente irrelevante. É o caso do estudo de Chinnappan (2021), em que o aumento foi de 10%. De 200 ng/dL na baseline, para 220 ng/dL ao fim das 12 semanas com o tongkat ali. Ou seja, continuaram bem abaixo do valor de corte para deficit androgénico (<300 ng/dL). Clinicamente este aumento é irrelevante.


Um estudo de 2012 com o mesmo extrato (Ismali et al. 2012), PHYSTA®, não mostrou diferenças nos níveis de testosterona comparativamente ao grupo placebo. Tratou-se de um estudo de dimensão equivalente (N=109), mas que não foi incluído na meta-análise. Se eu o encontrei, os autores também o terão visto já que se enquadra nos critérios de elegibilidade. Existem mais estudos a sugerir um efeito positivo do tongkat ali, mas tratam-se de ensaios mal desenhados e não controlados por placebo. É impossível atribuir o aumento da testosterona ao suplemento quando existe pre-condicionamento apenas por participar (Tambi et al. 2011; Henkel et al. 2014). Encontramos também outros trabalhos que não atestam o efeito positivo do tongkat ali (Udani et al. 2014; George et al. 2013). A evidência não é consistente, e os estudos favoráveis estão longe de ser conclusivos.


Em relação à Fadogia agrestis, uma imagem vale mais do que mil palavras:



Não existe nenhum estudo em humanos com Fadogia agrestis, e não foi certamente com base em evidência científica que o Andrew Huberman sugeriu o seu uso para aumento dos níveis de testosterona. Não existe.

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