O estereotipo de um corpo fit, no sentido corriqueiro da palavra, assenta numa construção social que o associa a saúde, poder, estatuto e sucesso num hierarquia de que queremos fazer parte. E fazemos, mas em diferentes níveis informais. Também aqui temos os lideres e diferentes classes de subordinados. Os que o têm, e os que o querem ter. Mas no que respeita à saúde e longevidade, a imagem corporal não tem essa associação artificialmente implícita. Que como todos os fenótipos contínuos terá uma relação em “U”, favorecendo os tipos intermédios e com maior risco nos extremos.
Mas não é a estes que chamamos de “fit”, mas sim aos corpos musculados e tonificados que aparecem nas revistas e se expõem nas redes sociais. Resultado de treino e dedicação é certo, mas nem sempre dos hábitos que reconhecidamente beneficiam a nossa saúde e vitalidade. A componente genética tem o seu peso, e nem sempre são corpos que resultam de uma dieta adequada mas sim de grande restrição ou distúrbios do comportamento alimentar com peso na saúde psíquica, mas também física. Além disso, todos sabemos que o recurso a drogas para fins estéticos é comum. Estima-se que cerca de 20% dos frequentadores de ginásios tome ou já tenha tomado algum tipo de esteróide anabolizante. Prevalência que não inclui drogas para perda de peso. E não é abusivo extrapolar que nesta percentagem estejam alguns dos corpos mais favorecidos na hierarquia do fitness.
Os objectivos estéticos são perfeitamente legítimos, até onde a saúde o permite. E mesmo além desse limite é uma decisão individual que não nos compete ajuizar. Mas é importante ter bem assente que a saúde não se define pela imagem corporal. Um homem com 15% de massa gorda não é necessariamente menos saudável do que um de 10%. Nem uma mulher de 17% em comparação com outra de 20 ou 26%. E dois indivíduos com a mesma massa gorda e peso podem manifestar morfologias corporais bem distintas. Abdominais delineados não nos protegem da doença nem nos garantem mais anos de vida. Só quando decorrem naturalmente de bons hábitos. Apenas o estilo de vida e herança genética o pode, manifestando-se ou não nessa imagem que preenche o estereotipo de “fit”.
Comments